sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Scrum: Afinal o que significa ser empírico, iterativo e incremental?

De acordo com o Guia Scrum, o framework Scrum é fundamentado no empiricismo e emprega uma estratégia iterativa (e não interativa) e incremental. Mas a final o que significa cada uma dessas palavras?

Independente de seus significados no dicionário, para o Scrum, seus significados são:

* Empiricismo: o conhecimento provém de experiências e toda decisão é embasada no que se conhece e que se tem como verdade, até o momento de sua tomada. 

Na prática, isso significa evitar adotar premissas como verdades, sem sua efetiva comprovação. Adotar premissas é uma técnica muito comum, em projetos waterfall. No começo do projeto, quando estamos na fase de levantamento de requisitos, não temos maneiras eficientes de garantir aquilo que definimos. Então, criamos premissas que, caso não se comprovem, serão tratadas como mudanças de requisito (change request). 

O problema em se trabalhar assim é que, o momento de se testar a premissa é, geralmente, tardio; na fase de testes - após um longo período de design e desenvolvimento. Caso algo tenha que ser alterado, seu custo será alto, tanto em prazo, quanto financeiro. Ex: imagina que existe um projeto de um site e assumimos a premissa de que todos nossos clientes utilizam o navegador Internet Explorer 9.0. 

Então, todo desenvolvimento e testes são feitos, com base nesta premissa. Porém, no momento dos testes finais, nas máquinas dos clientes, identificamos que 40% utilizam o navegador Chrome. Imaginem o custo, de termos que alterar TODAS as funções desenvolvidas e que funcionam apenas no Internet Explorer.

Para evitar tal situação, o Scrum adota a prática de só decidir - e assim trabalhar - com fatos concretos. Caso não se tenha experiência anterior, ou fatos que embases uma premissa, o time trabalha para "comprar" o conhecimento. POC (provas de conteito), são uma técnica comum, para se adquirir um conhecimento importante e que ainda não temos. 

No exemplo acima, em vez de assumir uma verdade, o time faria um trabalho de campo, para verificar, exatamente, quais navegadores são utilizados pelos clientes. Isso evitará a necessidade de alteração futura, com menos custo e maior assertividade.

* Iterativo: iteração significa repetição. Assim, o conceito de iterativo, segundo o Scrum, significa realizar ciclos constantes (Sprints) repetidas vezes. Ciclos constantes - em duração, rotina de eventos, pessoas envolvidas (time) e ferramentas (tecnologia, linguagem de desenvolvimento, etc.) - elevam o conhecimento, velocidade de entrega e qualidade.

Independente do contexto (pessoal, profissional, entretenimento, etc.), toda vez que refazemos algo, o fazemos melhor. É aquele ditado: "a prática leva a perfeição". Logo, quanto mais praticamos, melhor nos tornamos no que fazemos.

Este conceito parece óbvio e simplório de mais. Mas, se olharmos sob outra ótica, veremos um risco que precisa ser gerenciado. Se toda vez que fazemos algo, o fazemos melhor; então aquilo que fizemos ano passado, certamente poderia ser melhorado - afinal, desde o ano passado, praticamos mais e, certamente, hoje fazemos melhor!

Sob esta perspectiva - e com foco no âmbito profissional -, a cada vez que desenvolvemos um entregável - seja uma funcionalidade de sistema, uma planilha Excel, um relatório, ou qualquer outro tipo de entregável - deixamos ali um débito técnico. Este débito é inevitável, uma vez que com o passar do tempo, a forma como fizemos o entregável fica desatualizada. 

Desta maneira precisamos, de tempos em tempos, revisitar aquilo que fizemos no passado - desde que ainda utilizado, lógico - para verificar se não poderíamos aprimorar algum ponto importante. Caso não revisitemos nossas entregas, corremos o risco de ficarmos tão desatualizados, que qualquer nova melhoria se torne complexa de mais, a ponto de não ser implementada - ou ter um custo mais caro, de implementação.

* Incremental: Este é o ponto mais difundido, para àqueles que já ouviram falar de Scrum. Incremental significa entregar partes de um todo, a cada final de ciclo (Sprint).

O benefício de se utilizar esta técnica, é que o cliente não precisa esperar todo desenvolvimento, para usufruir de benefícios do produto / entrega. 

Ao mesmo tempo, ao ter acesso constantemente às entregas (final de cada Sprint) - e mesmo que parciais - o cliente pode nortear o time de desenvolvimento, através de feedbacks contantes, sobre o que gostou ou não, do produto entregue.

Outro benefício, é que o cliente pode decidir mudar os rumos do produto - ou até parar seu desenvolvimento - no momento que entender ser necessário. Isso reduz riscos e prejuízos, aumenta a confiança, entre negócios e time de desenvolvimento, e produz um produto mais próximo às necessidades reais do cliente final.

Enfim, para se ter um melhor resultado, na utilização do Scrum, é importante analisar o guia com um olhar mais profundo sobre seus pilares, valores e técnicas. Buscar entender cada uma das iniciativas ali apresentadas. 

Afinal, como Mike Cohn diz no prefácio do livro Scrum Essencial (Kennet S. Rubin, 2012), existem milhões de maneiras de se fazer um hambúrguer, assim como existem bilhões de maneiras de se implementar o Scrum. Enquanto não existe certo ou errado, existe uma maneira melhor e pior de se fazer um hambúrguer, ou implementar o Scrum.